Veja com exclusividade o que uma das maiores cantoras da atualidade escreveu sobre o falecimento do seu tio-avô Dr. Ormeil, que podemos considerar um Itabaianense de corpo e alma, apesar de não ser natural de Itabaiana
A Carta
Meu tio-avô, Ormeil, tão querido, cuja inteligência e a cultura me inspiram profundamente, faleceu em meados de novembro. Fui acometida por uma tristeza enorme, ao passo que aceitei, pois ele estava cansado e havia vivido o suficiente e, na maior parte de sua experiência na Terra, agradado a Deus. Tenho algumas cartas dele guardadas comigo. Tenho muitos ensinamentos que jamais sairão da minha memória e do meu coração.
Talvez ele tenha partido sem ao menos saber o quanto era admirado por mim. Não poderia publicar nenhuma das outras cartas que recebi, pois as lições são extremamente pessoais. Mas, tenho certeza que, ao lerem esta, escrita faz quase onze anos, vocês perceberão a importância do amor em família e da sabedoria.
Por conta da experiência e do zelo do meu saudoso tio, fui envolvida de uma só vez em uma atmosfera de força de vontade, dedicação, proteção, respeito e, sobretudo, amor. Nossa família é o nosso pilar. Percebam os sinais que recebi, sintam que eu me fortaleci porque a minha volta estavam pessoas que acreditaram em mim.
Relendo esta carta, fazendo um resgate de tudo que experimentei em poucos e intensos anos, testifico que ninguém é feliz sozinho. Precisamos de apoio. Cada um de nós necessita ser impulsionado e eu sei que é por esse motivo que um dos principais ensinamentos de Jesus Cristo reza que devemos amar o próximo como queremos ser amados.
Saudades de meu tio. Não estive presente em muitos desses últimos momentos de sua vida, mas existe grande parte de mim que exala o que havia de melhor nele. Agora quero ser melhor para, então, fazer o mesmo pelo meu filho. Queria que meu tio tivesse visto o que aconteceu ontem no Carnatal. Foi incrível!!!!! Amanhã torno a escrever e falo sobre a noite inesquecível que tive na minha cidade, capital do Rio Grande Do Norte.
CL
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Itabaiana, 19 de junho de 1998
Querida sobrinha-neta Claudinha:
Foi no dia 15 de novembro de 1993. O carro de seu pai deslizava pelo asfalto da “Paralela”, rumo `a chácara de meu irmão Mário.
Súbito, uma voz meiga, suave, canora, chegou aos meus ouvidos com a seguinte pergunta:
-Meu tio, por que o senhor nunca me escreveu? Eu gostaria de, também, receber uma carta sua.
Era você, Claudinha, que assim me falava.
Numa de minhas cartas (30-12-91) a Ilna, sua extremosa mãe e filha minha pelo coração, eu dizia que você é jovem e traz na mente as cores sublimes da vida.
Era uma profecia. Eu antevia a glória imensa do seu porvir não muito distante.
Hoje finalmente chegou o dia de se realizar a sua vontade, embora de nada valham as palavras tremulas de um ancião, mas que tem um pensamento lúcido, amante da vida e um coração que é o arcano, o repositório do amor de todos aqueles a quem amo, inclusive e especialmente você.
Venho acompanhando, através das noticias recebidas de minha idolatrada Ilna, o seu rápido e veloz progresso em tudo o que faz, tanto nos estudos como no setor artístico.
Jovem, criança ainda, você já brilha no firmamento das cantoras e a sua estrela há de fulgir cada vez mais até ofuscar o próprio brilho do sol.
Seja sempre você mesma. Não deixe que o orgulho empane a graça e a meiguice de que você é o símbolo.
Quanto mais sei de seus triunfos em cada apresentação nos palcos dessa minha Bahia, mais sonho com o esplendor em terras outras desse nosso rincão brasileiro até chegar a apoteose máxima nos procénios dos teatros mais sublimes do Universo.
Oh! Como transborda de alegria a alma deste velho tio-avô a cada nova notícia de seu engrandecimento na vida.
Saiba agradecer primeiramente a Deus que lhe deu tantos encantadores dons como o da beleza, da voz argentina, da graça, da simplicidade e, principalmente, da saúde. Em nível idêntico, sejam seus agradecimentos pra esses pais maravilhosos que você tem- Claudio e Ilna- que lhe dão o amor, a educação, a orientação precisa na vida, o alerta para os percalços que possam sobrevir, e, que, vezes muitas, se mascaram de doirado, num luzir falso e traiçoeiro.
Minha querida Claudinha, como eu gostaria de, pessoalmente, dar-lhe o meu abraço de parabéns e poder deixar, orgulhoso, um ósculo sincero na tua fronte augusta. Nessa impossibilidade, peço a seus pais que o façam por mim.
Sei que palavras mais belas e mais sensatas você tem ouvido de seus pais, mas uma pétala de rosa não faz extravasar a água de um copo totalmente repleto.
Tenha sempre os olhos fitos no futuro e que o passado sirva, apenas, para a reflexão do que deva ser restaurado.
Minhas cartas são um “jornal”, como diz minha querida Ilna, mas é que o meu amor é a expressão da verdade e a verdade me empolga. Quando percebo, já escrevi demais.
Que as bênçãos do Altíssimo caiam em catadupa sobre você, seus pais e irmão.
Eu fico a entoar louvores a Deus por ter me dado uma sobrinha-neta tão maravilhosa quanto você.
Seu tio-avô,
Ormeil Câmera
"Dr. Ormeil Câmera nasceu em Salvador em 1920. Formou-se pela UF Bahia em 1955 e foi para Itabaiana em 1957. Serviu ao povo itabaianense durante 48 anos e encontrava-se aposentado. Foi o primeiro diretor do Hospital Dr. Pedro Garcia Moreno, era viúvo e tinha três filhos, dos quais um já é falecido. Além da Medicina, uma outra paixão dele era a literatura, onde é autor de três livros."
Fonte: http://blogdaclaudinha.claudialeitte.uol.com.br/blog_claudinha/
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Cláudia Leitte escreve sobre Dr. Ormeil
quinta-feira, 25 de dezembro de 2008 Postado por admin às quinta-feira, dezembro 25, 2008 |
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